Nos idos de março

Luiz Ruffato
Sobreviver à ditadura brasileira, instaurada com o golpe de 31 de março de 1964 e consumada no fechamento geral pelo AI-5 em 1968, não foi simples. Para os escritores, tratava-se de fazer denúncias do regime de exceção sem muitas vezes poderem ser claros para que a censura não barrasse seus livros. Assim, contos e romances tinham que passar por um autêntico “corredor polonês” e saírem cifrados, alegóricos, metafóricos, para poderem chegar ao outro lado e serem lidos. Ou tinham um realismo melancólico em que o exílio na própria pátria, a tortura e as desilusões se perpetuavam, num ciclo depressivo. Read more

US$21.20

Sobreviver à ditadura brasileira, instaurada com o golpe de 31 de março de 1964 e consumada no fechamento geral pelo AI-5 em 1968, não foi simples. Para os escritores, tratava-se de fazer denúncias do regime de exceção sem muitas vezes poderem ser claros para que a censura não barrasse seus livros. Assim, contos e romances tinham que passar por um autêntico “corredor polonês” e saírem cifrados, alegóricos, metafóricos, para poderem chegar ao outro lado e serem lidos. Ou tinham um realismo melancólico em que o exílio na própria pátria, a tortura e as desilusões se perpetuavam, num ciclo depressivo.

Book Details

Author: Luiz Ruffato
ISBN: 9788581302461
Publisher: Geração Editorial
Publication year: 2014
Cover: Brochura - Paperback / softback
Subtitle: A ditadura militar na voz de 18 autores brasileiros
Pages: 288
Language: Portuguese (Brazil)

More about the book

UM MARÇO CUJOS IDOS MARCARAM A HISTÓRIA NA VISÃO DE CONTISTAS BRASILEIROS   Luiz Ruffato organiza antologia com grandes vozes da literatura nacional que viveram após o golpe de 64  A Geração Editorial oferece, no aniversário de cinquenta anos do golpe militar de 1964, um precioso mosaico literário do que foi a ditadura militar no universo dos escritores brasileiros. O que significou para eles e o que ela fez brotar de suas escritas em anos emparedados. Nos quais a liberdade de expressão se encontrava abolida e o arbítrio e a violência reinavam sobre a população, atingindo especialmente a ala dos formadores de opinião e dos retratistas da realidade e artistas. Entre os atingidos se encontravam os escritores, impedidos de falar claramente. Nos idos de março é uma coletânea de contos organizada por Luiz Ruffato, jornalista escritor dos mais premiados, contista, que, aproveitando a célebre advertência feita a César antes de ir para o Senado e sofrer a traição que se conhece, fala de um Março que jamais sairá da lembrança dos que o viveram, especialmente se estes foram afetados diretamente pela ação política esmagadora de uma ditadura proibitiva, arbitrária e violenta. O livro conta com histórias especialmente escolhidas por Ruffato para ilustrar o peso de chumbo daqueles anos em que ninguém podia se movimentar livremente, andando, ao contrário, pelas vias sorrateiras, furtivas e medrosas de uma vida pública tolhida. Nesses idos sombrios e sinistros, destacam-se os contos, que versam de maneira também geralmente sombria sobre os que sofreram os efeitos da ditadura. Os contos se desenrolam principalmente nos anos 1970, quando foi mais tenaz o fechamento do Governo e todas as áreas da cultura sofreram a corrosão da censura e do arbítrio. Uma característica da ficção deste período foi adotar a alegoria como forma de crítica, fazendo vasto uso de metáforas por impedimento de adotar um realismo claro e crítico que se referisse ao que de fato acontecia pelas ruas e pelos interiores das residências brasileiras. As situações são as mais diversas, mas quase sempre a crueldade, a ironia e a violência indireta (levando não raro ao suicídio e à loucura) se fazem presentes. Antonio Callado aborda o mito da “cordialidade” do brasileiro num relato cruel em que um professor, que nele acreditava, verá como é cordial a ditadura brasileira em se tratando de sua própria filha. Ignácio de Loyola Brandão, valendo-se do recurso kafkiano do absurdo, fala de “O homem que descobriu o dia da negação”. Ivan Ângelo adota a  narração da perseguição de um “subversivo” que se torna líder de uma revolta popular em “Documentário”, que utiliza o recurso dos recortes de notícias e boletins policiais para incremento da narrativa e exposição da realidade feroz. Um conto antológico, “A morte de D.J em Paris”, também se faz presente. Comparecem nesta coletânea nomes como Júlio César Monteiro Martins, Sérgio Sant’Anna, Flávio Moreira da Costa, João Gilberto Noll, Luiz Fernando Emediato, que foram emblemáticos naqueles anos, mas a coletânea traz também alguns autores posteriores como Fernando Bonassi e Luiz Roberto Guedes para ilustrar, em tempos posteriores, os efeitos do impacto daqueles anos em que todos submergiam na obscuridade, apesar de alguns autores terem, então, lançado, bases de carreiras literárias bem-sucedidas. Frei Betto comparece com um conto particularmente interessante, que aborda a personalidade de Dan Mitrioni, torturador americano especializado no terrível assunto que acabou sendo condecorado como homem exemplar nos EUA por sua interferência sinistra na pedagogia do terror das ditaduras latino-americanas, a brasileira entre elas. Também o conto “Alguma coisa urgentemente”, reflete com pungência o que era a tortura na psicologia de alguns personagens da cena da classe média brasileira, causando um poderoso efeito de choque. As narrativas se dividem em dois focos – o do uso da fantasia absurda e irrealista, para fins de paródia e alegoria, e outros de natureza mais confessional e realista. Oficialmente, a ditadura termina em 1985 com o movimento das Diretas Já nas ruas do país, mas os efeitos do desmanche geral da cultura, da educação, da civilidade, promovido pela ditadura, se perpetuaram ainda em muitas áreas, especialmente na policial, onde a tortura é vista estatisticamente como uma mancha peculiar da rotina diária da polícia brasileira. O autoritarismo brasileiro não desapareceu por completo e se reflete ainda nas diferenças sociais não abolidas nem pelo maior acesso a um consumismo e a um florescimento do capitalismo liberal que se deram depois das eleições democráticas normalizadas nos anos 1980 e 1990 e no novo milênio. A expressão da violência brasileira, que se tornou mais aguda em muitos aspectos, está aí para dizer o quanto aqueles anos nos afetaram. Esta coletânea oferece, portanto, um material excelente para reflexão, além do talento dos autores, que, através da eficácia narrativa de contadores de histórias (ainda que de histórias que ficam um tanto veladas pela circunstância histórica que as impede de serem bem claras), expõem o nervo cru de uma grande mancha da história política e social brasileira. Sobre o autor  Luiz Ruffato, organizador desta antologia, vem se pautando pela denúncia dos males nacionais em seus livros atuais, como “Eles eram muito cavalos”, “Inferno Provisório” (cinco volumes), “Estive em Lisboa e lembrei de você” e outros. Para a Geração Editorial, ele organizou também a antologia “Fora da Ordem e do Progresso”.

Reviews

There are no reviews yet.

Be the first to review “Nos idos de março”