Crônicas na bagagem: 421 dias na estrada

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Foram 168 noites em um Sandero 1.0 sem nenhum tipo de adaptação. Apenas baixávamos os bancos da frente o máximo possível e deitávamos tortos, do jeito que dava. Não havia outra maneira se quiséssemos continuar. Cada diária de hospedagem paga significaria um dia a menos na estrada, e não cogitávamos a ideia de abreviar a viagem. Por mais paradoxal que possa parecer, toda vez que superávamos o desconforto, o frio abaixo de zero que fazia congelar os vidros do carro por dentro, o calor extremo que nos obrigava a abrir as janelas à noite, os três ou quatro dias consecutivos sem banho e tantos outros desafios que essa expedição nos impôs, sentíamos ainda mais impulso por continuar, porque descobríamos uma parte desconhecida de nós mesmos, e essa jornada nos ensinou quão estimulante é se conhecer. Aos trinta anos, tínhamos um script pronto para as nossas vidas – trabalhar, se formar, almoçar com os pais aos domingos e viajar nas férias – e decidimos rasurar tudo o que fora delineado até então para escolher roteiros que mudavam todos os dias. Não sabíamos o que veríamos, quem encontraríamos, nem onde dormiríamos. Cada dia na estrada foi uma folha em branco, um capítulo sem spoiler, nem sempre com o final esperado, mas com uma nova evidência de que pouco ou nada sabíamos sobre o mundo e, principalmente, sobre nós mesmos.

Sobre os autores

Carina Furlanetto nasceu em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, em 29 de agosto de 1987. Graduada em jornalismo pela Universidade de Caxias do Sul, trabalhou em redações de jornal e assessorias de imprensa por dez anos. Em 2018, interrompeu a segunda graduação – estava no quarto semestre de psicologia – e pediu demissão do emprego como repórter para dar início à viagem pela América do Sul.

João Paulo Mileski nasceu em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, em 7 de outubro de 1987. Estudou jornalismo na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, mas desistiu de concluir o curso. Ainda assim, começou cedo em redações de jornal, a partir dos 19 anos, atuando por quase dez anos na área como repórter e colunista. Voltou a estudar aos trinta anos, dessa vez licenciatura em filosofia. A um ano de concluir o curso, após ser demitido do emprego como auxiliar parlamentar, interrompeu os estudos para viver a história contada neste livro.